quarta-feira, 25 de julho de 2007

Amnésia a insônia




_ Humm... Meu deus, onde estou?
_ Ufa! Que susto Luís. Gente, gente, o homi acordou!
_ Ah... Tudo gira... Quem são vocês? Por que toda essa gente engravatada aqui, doutor? Nem pertencem a minha família! Como estão no meu quarto?
_ Desculpe Senhor, se achar mais conveniente peço que eles o aguardem na ante-sala.
_Ante-sala? Que isso, até parece casa de rico – deixou escapar um riso de canto labial, o baque fora muito forte.
_Doutor, o que aconteceu comigo?
_Bem Luís, você bateu a cabeça violentamente. Uma amnésia momentânea pode estar afetando o senhor, porém já foste medicado devidamente, teu desmemorio é passageiro.
_Ahn! Tá tá, chama minha mulher, por favor.
_ Marisa, ele está te chamando.
Marisa adentra ao espaçoso quarto, vai em direção ao marido e paraliza-se por uma inesperada interjeição de Luís:
_ Ahhhhhhhh! Que isso mulher? Marisa, amor, é você?
_ Sim meu barbudinho, sou eu.
_ Mas o que houve com seu rosto?
_ Ahh bem, foi a plástica que você me deu de presente, lembra?
_E eu tenho dinheiro pra isso? Nós sempre fomos humildes!
_ Isso é passado bobinho. Queres saber das novidades?
Infeliz interrogação. Ao mesmo tempo, um ancião, beirando a falência física; já, porém, o raciocínio lógico (esclerose?), inocula-se esbaforidamente no recinto:
_ Cabum! Cabum! Um avião caiu! Lá em Congonhas; explodiu tudo; todo mundo morreu! E estão colocando a culpa no presidente...
_ Calma Waldir – tentava amenizar, Marisa.
Parecia, o dia, saído daquelas (trage)comédias pastelão: outro, Carlos, com um bonequinho em forma de sol na mão, entra e diz:
_ Gente! Descobriram que desviaram um monte de dinheiro do PAN, que aquele papo de patrocínio privado era furado e foi tudo feito com verba pública! E agora? E estão colocando a culpa no presidente...
_ Ai Carlos, acalme-se você também! - diz a mulher.
Luís, que aos poucos recuperava a, já enfraquecida, memória, estava em estado de choque com tanta notícia ruim em tão pouco tempo. Franziu a testa, cerrou o punho esquerdo e esbravejou:
_ Meus companheiros, e vocês ainda ficam impressionados? Nunca se viu tanto na história deste país o descaso tomar conta do governo. As criancinhas sem escola e com fome, o pai sem trabalho e com fome e a corrupção não pára um segundo. Eles nunca saem do poder. A população precisa ser escutada, eles estão cobertos de razão: Abaixo FHC!
Todos ficaram pasmados. Até Marisa conseguiu alterar o resto de expressão que sobrara em sua botulista face. O Doutor tratou de fechar a porta, indo para fora, claro. Waldir e Carlos, perplexos, sentaram na cama, olharam-se, pousaram a mão sobre as costas de Luís e disseram mansamente para que o baque não piorasse:
_Lula, agora você é o presidente!

Um comentário:

Rógini Haas disse...

Muito bom!! Entre os melhores textos que venho lendo ultimamente.
Excelente mesmo.