domingo, 19 de agosto de 2007

A imprensa americana e Walter Cronkite



Li dia desses, uma entrevista com um dos maiores jornalistas especializado em Oriente Médio da atualidade e o principal correspondente de guerra do mundo: o britânico Robert Fisk, que dos seus 61 anos, mora há 31 no Oriente Médio. E é um craque quando o assunto é cobrir guerra. A entrevista não focou apenas um assunto; a melhor análise, porém, ficou quando ele deu sua opinião sobre a imprensa americana: “Os repórteres americanos são guiados pelo governo”. E olhe que quem fala é um inglês da gema! Fisk disse que os correspondentes de guerra norte-americanos baseiam-se em releases e em jornalistas locais que vão para o front para redigir suas matérias. Eles não buscam a prórpia informação. Consultam demasiadamente as versões oficiais, Exército dos EUA, autoridades dos EUA, Departamento de Justiça dos EUA e por aí a fora. Qualquer jornalista de meia-tigela sabe que a melhor fonte está onde está o acontecimento, fonte ocular, essas coisas. Mas nenhuma novidade. A imprensa americana cultiva uma cultura interesseira e muito ridícula: lá, os jornalistas gabam-se de participar de reuniões exclusivas da alta cúpula do governo, ser “amiguinho de Secretário de Segurança”, ter os tais off’s que outro não teria. Ou seja, para ser amiguinho do governo e ter as tais informações inéditas, não dá para meter o pau na política do país. Uma triste realidade que desvirtuou a função do jornalista (além de informar) de criticar o que há de errado. E pergunto-lhes: de onde veio essa cultura? Uma das respostas possíveis certamente é: Walter Cronkite (foto).
Aos desavisados, ele é considerado o maior telejornalista americano de todos os tempos. Comandou durante 19 anos (entre fins de 60 até meados de 80) ininterruptos o noticioso The CBS Evening News with Walter Cronkite que arrebatava a audiência, nunca deixou de ser líder, e foi pioneiro na ancoragem de um telejornal – suprir as funções de apresentador e editor-chefe ao mesmo tempo. Quero dizer: Mário Motta não é âncora.
Muitos pensam, os que o conhecem pelo menos, que é herdeiro do estilo Edward Murrow – aquele perseguido pelo macarthismo da década de 50, Good Nigh and Good Luck –, é justamente o contrário. Cronkite não era de afrontar o governo, envolver-se em acirradas questões políticas e sofrer perseguições como Murrow, mas teve grande importância para a origem da bajulação jornalística americana aos seus políticos, Walter Cronkite participava efusivamente dos bastidores da política americana. Ou seja: não ia contra o governo. E mesmo assim é considerado o maior de todos os apresentadores pela sua imposição defronte as câmeras, seu olhar congelador e adquiriu o status de que tudo o que falava era verdade: Walter Cronkite não mentia. Pura bobagem. A melhor definição de Cronkite que já escutei foi durante o programa Manhattan Connection pelo jornalista Paulo Francis. Quando perguntado por Lucas Mendes se Walter Cronkite era o leão ou a raposa da imprensa americana, ele, com seu habitual sarcasmo, disparou: para mim ele é o pinto. Walter não omitia opinião própria, era um pau mandado do governo. Sou muito mais o Edward. Não é à toa que ele teve um filme premiadíssimo a seu respeito. Sem Walter o rumo do jornalismo americano poderia ser muito melhor (sem citar os interesses das emissoras, claro), mais honesto e menos baba ovo. Pior para nós. E para Robert Fisk.

sábado, 4 de agosto de 2007

Everybody wants Scissor Sisters


Parecia, a mesmice e o marasmo, o derradeiro epílogo da atual e decadente fase do rock n’roll. Sem novidades impregnantes que nos fizessem sair da poltrona pensante que é a mente nesses tempos de som industrializado (leia-se: música de consumo proletário), enfim surge aos nossos ouvidos uma nova proposta artística: o Scissor Sisters. Talvez seja até prepotência minha querer defini-la como rock, ou denominá-lá apenas num estilo; eles conseguem a proeza de poucos e geniais músicos, quebrar barreiras. Andam do rock para o pop num pulo, experimentam como ninguém a música eletrônica e agradam crianças e adultos; gerando, infelizmente, discordâncias na preconceituosa faixa adolescente. Pois desprovidos de segurança não possuem personalidade própria.
O Scissor Sisters, proveniente de New York, já está no segundo álbum (Scissor Sisters – Ta-Dah, 2007). Nesse álbum destacam-se os hits Kiss you off e I don’t feel like dancing, essa incessantemente nas rádios e aquela a exaustão na MTV com um clip instigante, sobre a padronização de beleza – em recomendação pessoal, cito a faixa de encerramento Everbody wants the same thing, excepcional! Eles surgiram em 2004, com o hit Take your mama (que fala sobre filho e mãe que vão a uma balada juntos), excelente som, ganha pistas de danças e cifras de violão ao mesmo tempo, algo impossível até então. E estão ganhado fãs a cada dia que passa. Duvida? Não é à toa que a banda americana faz, até, mais sucesso na Grã-Bretanha do que no próprio país. Por motivo muito simples: o SS não é mais daqueles dances que não querem dizer nada, aliás, a banda, vem com uma ideologia desafiadora, ou não, para seus gestores mercadológicos: é uma banda sinceramente gay.
Enganou-se quem pensou em “Irmãs-Tesoura” como tradução à alcunha do grupo – segundo Ana Matronic, a definição vai além: “essa é uma expressão americana como duas lésbicas transam”, diz a vocalista da banda, acompanhada por Jake Shears, o outro vocalista do grupo, também homossexual como Ana (ou, ela, bissexual?). Bem, isso é o que menos interessa. Não sou gay e sou fã da banda. Ouvir Scissor e entendê-los, principalmente aos homens que possuem maior ojeriza aos homos, desnecessita de algo simples: preconceito.
Scissor Sisters possuem influências diretas, e descaradas, como os falcetes dos Bee Gees, a irreverência de David Bowie, um pouco de Duran Duran e se aproxima de um som feito pelo Jamiroquai, mais desafiador e rock n’roll, porém. Dispam-se seus ouvidos e escutem a nova onda da música mundial: Scissor Sisters!